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sábado, 30 de outubro de 2010

Carnaval

Jornal Folha de São Paulo. Dois dias antes do Carnaval, a maior “festa popular” do Brasil, na qual o povo pobre trabalha por um nada e os ricos ganham rios de dinheiro, o que se poderia esperar de uma charge? Nada muito diferente dos temas surrados de aids, camisinha, bebedeira, sexo, samba, adultério, fornicação, mulher pelada...


O leitor assíduo, porém, espantou-se ao deparar-se com o desenho de um alto penhasco sobre o qual enfileiram-se pessoas a tirar, apressadas, a roupa de trabalho e, desprotegidas porque despidas, saltar no abismo. Será erro do jornal? É mesmo uma charge de carnaval?


A surpresa não para por aí: o abismo abriga – pasme! – um grupo de foliões a pular, animado, ao som dos tamborins. Quer espantar-se mais ainda? Pois aí vai: por todos os lados, em altas labaredas, se espalha, em meio aos foliões, o fogo do inferno!


Ironia para com os “puritanos”? Desabafo de um cidadão que não suporta ver sua vida de ponta cabeça por três dias a cada ano? Vingança de alguém decepcionado com a festança? Ataque agudo de esbravejamento ameaçador de pregador de esquina? Não faço idéia. Teríamos que perguntar ao chargista que, certamente, ficaria feliz de ver tantas elucubrações em torno de sua criação. Seja como for, a mensagem foi passada. Sob qualquer ponto de vista que se analise a charge, o Carnaval é o inferno. De qualquer ângulo que seja vista, na visão do autor da charge, jogar-se no carnaval é precipitar-se no inferno.


Corajoso, este chargista! Não teve medo de declarar seu ponto de vista diante da grande industria do carnaval. Não teve medo de ser antipatizado por seu “anti-marketing”, por nadar contra a tsumani nacional que é o carnaval.


Seja qual for a sua motivação, a mensagem, bem clara, vai contra a corrente que afirma ser o Carnaval o céu na terra: céu de prazeres imediatos advindos de orgias, de bebedeiras, de libertinagem, de rixas, de ódio, de devassidão, de impureza, de todos os frutos da carne citados por São Paulo em Gálatas 5. Querendo ou não, foi profeta da verdade que muito poucos conseguem enxergar: o carnaval é um salto no inferno.


Não! Não se trata de moralismo. Longe disso! Não foi moralista nosso chargista e nem estou eu, dedo em riste, praticando uma moral hipócrita. Ele foi profeta, repito. Profeta da verdade. O inferno existe e há gente que vai bater por lá, infelizmente. Muitos desses deram seu primeiro passo em direção ao precipício em alguma folia da vida, iludidos por promessas mentirosas de bem-aventurança fácil e imediata, na qual felicidade é sinônimo de gozo.


O chargista fez profecia. O que faço não é mais que lê-la e atestar que Deus revela a verdade sempre e por todos os meios. Deus fala, fala sempre, fala também por um chargista talentoso, fala ainda que seja em meio à sujeira enlameada dos milhões de camisinhas distribuídas, ainda que seja na dor cruciante do céu pelo avesso que se desmascara na triste quarta feira quando, ainda que seja ouvido, já é tarde demais.

Maria Emmir Nogueira

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